Vila Real de Santo António e Santo
António de Arenilha
– Duas fundações, uma estratégia
O presente mês de Maio de
2013 assinala os 237 anos da maior e mais significativa edificação iluminista
efectuada em Portugal: a fundação de Vila Real de Santo António. Contudo,
também este ano de 2013 assinala uma data da maior importância para a História
local: os 500 anos da fundação de Santo António de Arenilha. Ora, se o
nascimento de Vila Real resultou da estratégia política, económica e
territorial concebida pelo Marquês de Pombal, em finais de 1773, visando a
afirmação do Estado português face ao Estado espanhol, que dizer da fundação de
Arenilha? Com efeito, a nova vila iluminista, inaugurada em 13 de Maio de 1776,
pretendia reforçar a barreira natural que marca a divisão política e
administrativa entre os dois reinos, para além de impedir o contrabando, a
evasão fiscal e a livre pesca castelhana praticada no mar de Monte Gordo.
Porém, não foram os mesmos motivos que levaram D. Manuel I a mandar construir “nossa
Villa darenilla que hora mandamos fazer e edifycar”? Sim, se bem que a
fundação de Arenilha também pretendesse alertar as povoações vizinhas das
investidas da pirataria moura, bastante activa na centúria de quinhentos.
A verdade é que muito se
tem enaltecido a acção reformista (e mesmo despótica) do Marquês de Pombal,
seguramente devido ao património edificado pombalino, como à proximidade
cronológica que nos aproxima do século XVIII. Todavia, este espírito reformista
e pretensamente iluminado pelas luzes da razão, não foi exclusividade do
ministro de D. José I. Já o reinado de D. Manuel I, “o Venturoso”, tinha sido
pautado por um conjunto de acções que visavam fortalecer o reino política e
administrativamente, nomeadamente, através de conjuntos de reformas presentes
nos forais manuelinos. Prova disso, para os concelhos do baixo Guadiana, são a
carta de foral de Castro Marim, de 1504, a carta de foral de Alcoutim, de 1520,
ou mesmo a carta de privilégio de 8 de Fevereiro de 1513, onde o monarca manda
proceder à construção da vila de Arenilha. Efectivamente, a estratégia de D.
Manuel I para a foz do Guadiana acabou por antecipar-se ao Marquês de Pombal em
mais de dois séculos e meio, contudo, o avanço das águas do mar e a sistemática
acção da pirataria berberesca acabaram por despovoar a “vileta” no decurso do
século XVII. Ora, não fosse o tratado de paz assinado entre Portugal e
Marrocos, em 1774, e bem que Vila real de Santo António poderia ter tido
semelhante destino… Recordamos que D. José I faleceu em 1777, no ano seguinte à
fundação da vila régia, pelo que o Marquês de Pombal e os seus ambiciosos
projectos rapidamente foram votados ao abandono. Para a História ficam duas
fundações, cada uma no seu respectivo século, mas unidas por uma estratégia tão
comum quão intemporal.
Jornal do Baixo Guadiana,
Nº155, Maio de 2013, p.21.