Com a conquista de Faro,
Loulé, Albufeira e Aljezur, no reinado de D. Afonso III, dá-se o culminar da
reconquista cristã no Algarve, no ano de 1249. Com a nova configuração do mapa
político, as comunidades de piratas do Norte de África passaram a fustigar as
regiões costeiras do Sudoeste peninsular, nomeadamente o Algarve, saqueando as
populações do litoral, destruindo a navegação costeira, e cativando cristãos em
busca de eventuais resgates. No ano de 1332, por exemplo, uma armada de
assaltantes magrebinos, reunidos em doze galés, saquearam os moradores de
Lagos, levando alguns deles como cativos, para Marrocos. Em 1353, foi a vez da
vila de Castro Marim ser invadida e saqueada e, entre 25 de Maio e 14 de Junho
de 1385, um bando de salteadores muçulmanos irrompeu sobre Loulé e capturou um
vereador do concelho municipal.
A organização da marinha
de guerra tornou-se urgente como forma de contrariar o corso e a pirataria,
então muito activos. Foi neste contexto que a coroa decidiu recorrer ao
almirante genovês Manuel Pessanha, para liderar o processo das reformas
indispensáveis à marinha portuguesa. Foram apreciadas várias tácticas e
definidas estratégias como forma de retaliar os sucessivos ataques de navios
magrebinos que não davam descanso aos algarvios e às suas actividades
quotidianas, nomeadamente a faina piscatória. A nova e reestruturada marinha
portuguesa não tardaria a afirmar-se, respondendo ao dinamismo que lhe era
exigido: não só reprimir a pirataria muçulmana que assolava o Algarve, como
também passando a assaltar as costas muçulmanas de Granada e de Marrocos.
D. Dinis, ao fundar a Ordem da Cavalaria de Jesus Cristo em
Castro Marim, demonstrou a importância que atribuía à região do baixo Guadiana,
pois era o Algarve a primeira linha de defesa contra o inimigo muçulmano do
Norte de África. Ainda assim, continuaram as temíveis acções da pirataria
magrebina nas costas do Algarve. Ainda nos primeiros anos do séc. XV, a cidade
de Lagos foi novamente assaltada, sendo os sinos da igreja levados para Ceuta,
como troféu. A resposta portuguesa não tardaria, e logo em 1415, D. João I
conquista Ceuta, levando a cruzada cristã para solo marroquino. Em breve o
Algarve ganharia um importante papel no contexto nacional, na defesa e
abastecimento do Algarve Dalém Mar. No entanto, apesar da presença portuguesa
nas praças do norte de África, o Algarve não deixou de ser incomodado pela
pirataria moura. Basta-nos recordar que Santo António de Arenilha foi
despovoada nos inícios do séc. XVII, não somente devido ao avanço das águas do
mar, como também em virtude das investidas da pirataria magrebina. Foi somente
em 1774, depois de Portugal ter abandonado a última possessão portuguesa em
território marroquino (Mazagão), em 1769, que foi assinado o Tratado de Paz
entre Portugal e Marrocos que viria a pôr termo ao corso e a incrementar as
relações diplomáticas e comerciais entre Portugal e Marrocos.
Jornal do Algarve, Nº
2842, 15 de Setembro de 2011, p.15.
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