quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Sobre o corso e a pirataria magrebina no Algarve





                                                                                                                   
Com a conquista de Faro, Loulé, Albufeira e Aljezur, no reinado de D. Afonso III, dá-se o culminar da reconquista cristã no Algarve, no ano de 1249. Com a nova configuração do mapa político, as comunidades de piratas do Norte de África passaram a fustigar as regiões costeiras do Sudoeste peninsular, nomeadamente o Algarve, saqueando as populações do litoral, destruindo a navegação costeira, e cativando cristãos em busca de eventuais resgates. No ano de 1332, por exemplo, uma armada de assaltantes magrebinos, reunidos em doze galés, saquearam os moradores de Lagos, levando alguns deles como cativos, para Marrocos. Em 1353, foi a vez da vila de Castro Marim ser invadida e saqueada e, entre 25 de Maio e 14 de Junho de 1385, um bando de salteadores muçulmanos irrompeu sobre Loulé e capturou um vereador do concelho municipal.

A organização da marinha de guerra tornou-se urgente como forma de contrariar o corso e a pirataria, então muito activos. Foi neste contexto que a coroa decidiu recorrer ao almirante genovês Manuel Pessanha, para liderar o processo das reformas indispensáveis à marinha portuguesa. Foram apreciadas várias tácticas e definidas estratégias como forma de retaliar os sucessivos ataques de navios magrebinos que não davam descanso aos algarvios e às suas actividades quotidianas, nomeadamente a faina piscatória. A nova e reestruturada marinha portuguesa não tardaria a afirmar-se, respondendo ao dinamismo que lhe era exigido: não só reprimir a pirataria muçulmana que assolava o Algarve, como também passando a assaltar as costas muçulmanas de Granada e de Marrocos.

D. Dinis, ao fundar a Ordem da Cavalaria de Jesus Cristo em Castro Marim, demonstrou a importância que atribuía à região do baixo Guadiana, pois era o Algarve a primeira linha de defesa contra o inimigo muçulmano do Norte de África. Ainda assim, continuaram as temíveis acções da pirataria magrebina nas costas do Algarve. Ainda nos primeiros anos do séc. XV, a cidade de Lagos foi novamente assaltada, sendo os sinos da igreja levados para Ceuta, como troféu. A resposta portuguesa não tardaria, e logo em 1415, D. João I conquista Ceuta, levando a cruzada cristã para solo marroquino. Em breve o Algarve ganharia um importante papel no contexto nacional, na defesa e abastecimento do Algarve Dalém Mar. No entanto, apesar da presença portuguesa nas praças do norte de África, o Algarve não deixou de ser incomodado pela pirataria moura. Basta-nos recordar que Santo António de Arenilha foi despovoada nos inícios do séc. XVII, não somente devido ao avanço das águas do mar, como também em virtude das investidas da pirataria magrebina. Foi somente em 1774, depois de Portugal ter abandonado a última possessão portuguesa em território marroquino (Mazagão), em 1769, que foi assinado o Tratado de Paz entre Portugal e Marrocos que viria a pôr termo ao corso e a incrementar as relações diplomáticas e comerciais entre Portugal e Marrocos.



Jornal do Algarve, Nº 2842, 15 de Setembro de 2011, p.15.

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