Damião
António de Lemos Faria e Castro
– um fidalgo
algarvio refugiado em Ayamonte
Damião António de Lemos Faria e
Castro, figura excêntrica e singular no contexto do Algarve setecentista, viveu
entre 1715 e 1789 em Vila Nova de Portimão, terra que reivindica a memória da
púnica Portus Hannibalis, e Faro, a Ossonoba da antiguidade. Em Vila Nova de
Portimão, Faria e Castro cursou até cerca dos vinte anos a instrução elementar
com os jesuítas, no Colégio de São Francisco Xavier. Mudou-se posteriormente
para Faro, cidade mais propícia às necessidades culturais e “espirituais” do
fidalgo algarvio e, onde efectivamente, instalou faustosa residência para viver
“à lei da nobreza”.
Foi autor de “Aula da Nobreza Lusitana”, e de “História Geral de Portugal e suas Conquistas”, obras essas que
recorrem frequentemente a autores espanhóis e que bem atestam as relações de Faria
e Castro com o país vizinho. Não será, portanto, de estranhar que, quando
perseguido pela justiça portuguesa, o nobre algarvio se tenha refugiado em
Ayamonte durante cerca de dois anos, entre 1749 e 1750. A verdade é que Faria e
Castro escrevia correntemente em castelhano, tendo mesmo sido autor de alguns
opúsculos que mandou imprimir em Sevilha, o centro impressor mais próximo do
Algarve. A dedicatória de Epifonema Epicédico, o primeiro opúsculo redigido
em Ayamonte, data de 16 de Julho de 1749, e nele está presente uma homenagem à
Rainha D. Maria Bárbara e um elogio ao Duque de Cadaval, falecido aquando da
jornada que levou Faria e Castro ao exílio. Contudo, não ficou por aqui a
produção literária deste pretenso educador da nobreza lusitana, durante os anos
do seu exílio em Ayamonte. Redigiu inúmeras obras em língua portuguesa, mas
também em língua castelhana, como o “Oraculo
de si mismo, el Catholico, Grande, Augusto, y Invicto Monarca Don Fernando el
VI. Rey de España…”, para além de outras obras que chegaram até nós
manuscritas, como a “Relación
Geográfico-Historica de algunos terrenos de la Frontera de Portugal, Y España,
desde Ayamonte hasta Badajoz”. A sorte de Damião António de Lemos Faria e
Castro acabou por mudar após o falecimento do rei D. João V. Em 12 de Agosto de
1750 escreveu uma dedicatória ao novo rei português, D. José I e, uma vez perdoado,
pôde finalmente regressar a Faro, no final desse mesmo ano.
De salientar que, anos mais tarde,
em 1776, o próprio Faria e Castro esteve presente nas festas da inauguração de
Vila Real de Santo António, tendo mesmo descrito as festividades nos capítulos
I e II do Livro III do derradeiro tomo de “História
Geral de Portugal e suas Conquistas”, (recusado pela censura em 1787).
Descrição onde não deixa de manifestar a sua hostilidade em relação à decisão
do Marquês de Pombal em proceder à “nova
fundação da notável Vila Real nos areais do Guadiana para fazer frente a
Ayamonte”, a sua acarinhada cidade dos tempos do “degredo”…
Para a História fica o exílio deste nobre
algarvio em Ayamonte, e para eventuais interessados na biografia desta
interessante figura do séc. XVIII português, recomenda-se ainda a leitura de “Cultura e Política no Algarve Setecentista –
Damião Faria e Castro, (1715-1789), aturada obra da autoria do Prof. Doutor
António Rosa Mendes, e publicada pela editora Gente Singular.
Jornal do Baixo Guadiana,
Nº150, Novembro de 2012, p.21.
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