23 de Abril de 1515 –
O Ataque dos Portugueses a Marraquexe
O dia 23 de Abril de 2012
assinala os 497 anos de uma acção militar tão arrojada quanto desconhecida pela
generalidade dos portugueses: o ataque luso à cidade de Marraquexe! Com efeito,
em 1514, depois de os portugueses terem conquistado Azamor, vencido a Batalha
dos Alcaides, e feito tributários as tribos mouras daquela região, o reino de
Marraquexe tremeu e solicitou a vassalagem a Portugal através de carta enviada
a D. Manuel. O monarca português não tardou a passar o salvo-conduto e a enviar
Fernão Dias para negociar as condições de vassalagem. Não sabemos, contudo, o
resultado destas negociações nem se realmente chegaram a existir.
A verdade é que em Abril
de 1515, os capitães das praças de Azamor, D. Pedro de Sousa, e de Mazagão,
Martim Afonso de Melo, uniram forças com o capitão de Safim, Nuno Fernandes de
Ataíde e, juntamente com os mouros de pazes, atacaram Marraquexe. Juntaram quase
3000 cavaleiros e alguns peões, e a 21 de Abril marcharam pelas planícies da
Duquela em direcção à antiga capital dos almorávidas e dos almóadas. No dia 23
de Abril de 1515, depois de passarem o rio Tencift,
os portugueses avistaram o minarete da imponente mesquita da Coutobia. O comandante desta ofensiva
militar, Nuno Fernandes de Ataíde (membro da fidalguia que se estabeleceu no
Algarve no decurso da Expansão Portuguesa para o Norte de África e um dos mais
brilhantes capitães de toda a história da presença portuguesa nos Algarves
Dalém Mar), passou o seu guião ao genro, D. Afonso de Faro, e a bandeira a
Álvaro de Ataíde.
Ora, apesar de decaída do
seu antigo esplendor, Marraquexe era uma cidade extremamente populosa e enorme.
As suas muralhas tinham 12 quilómetros de perímetro, 5 metros de altura e 2 de
espessura! Ao verem a cidade cercada, os mouros saíram das muralhas que
protegiam Marraquexe para lutar em terreno aberto. O combate que se seguiu foi
de tal modo violento que Nuno Fernandes de Ataíde, apercebendo-se da
desproporção numérica entre as forças em confronto, deu ordem de retirada
receando um grande desastre. No dia 25 de Abril de 1515, chegavam as forças
portuguesas a Safim, Mazagão e Azamor. Nada se ganhara a não ser a glória do
feito, muito ao gosto do belicoso Nuno Fernandes de Ataíde. Por esses anos a
fantasiada lusa não parecia conhecer limites, pelo que fica para a História o
desplante de pretender conquistar Marraquexe com uns escassos 3000 homens! E,
contudo, sejamos honestos: de que vale criticar a prosápia dos portugueses
desse tempo se os de hoje, não obstante as circunstâncias, ainda pecam pelos
mesmos defeitos?
Jornal do Baixo Guadiana,
Nª 143, Abril de 2012, p.26.
Jornal do Algarve, Nº2873, 19 de Abril de 2012, p.19.
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