Os Fenícios no Algarve
Desde a longínqua
Proto-História que o território algarvio recebeu povos oriundos do Mediterrâneo
oriental, sendo os fenícios pioneiros nas viagens que os trouxeram aos confins
do mundo conhecido de então. Mas quem eram estes fenícios? Em que regiões do Algarve
se estabeleceram? E qual o seu legado cultural?
Os fenícios foram um povo
que ocupou o antigo território de Canaã, que corresponde grosso modo ao actual território do Líbano, por volta de 1200 a. C.
Fundaram várias Cidades-Estado, nomeadamente Biblos, Sídon e Tiro, onde o
comércio era a actividade principal. A sua expansão foi desencadeada devido ao
declínio das potências continentais da região e também ao desaparecimento da
marinha de Creta e de Micenas, potências navais do II milénio a.C. do Mediterrâneo
oriental. Até ao séc. V a. C., quando os gregos começaram a cruzar os mares e a
fundar colónias e entrepostos, os fenícios dominaram o comércio mediterrânico,
não tendo concorrência durante mais de trezentos anos. A grande riqueza mineira
da Península Ibérica, da qual faz parte o Algarve, atraiu desde cedo a atenção
deste povo. A razão inicial da sua presença no ocidente está certamente
relacionada com a procura de metais como cobre, prata, estanho e ouro, não se
limitando exclusivamente a esta actividade, como também ao desenvolvimento de
feitorias e à riquíssima indústria da salga de peixe.
De acordo com os autores
greco-latinos como Veleio Patérculo, Estrabão, Diodoro ou Plínio, a fundação
das primeiras colónias fenícias no Ocidente deu-se por volta de 1100 a. C.,
porém, esta informação levanta muitas dúvidas ao nível do registo arqueológico,
pois as cronologias determinadas para os materiais arqueológicos raramente
antecedem o séc. VIII a. C. No contexto algarvio temos conhecimento de
assentamentos fenícios em Castro Marim e no Cerro da Rocha Branca, em Silves.
Contudo, é provável que também Tavira ou Faro tenham recebido estabelecimentos
fenícios, pois tanto as condições geomorfológicas (localizações em promontórios
próximos de estuários de rios), como os topónimos latinos de Balsa e Ossonoba poderão ter origem fenícia. Estes estabelecimentos
localizados nos estuários de rios como o Guadiana, o Gilão ou o Arade,
constituíram uma rede de navegação de cabotagem, através da qual se podiam
estabelecer relações comerciais com as populações locais. De resto, estas bases
de assentamento poderiam assumir diferentes formas, como colónias, feitorias ou
entrepostos comerciais, sendo estes resultado dos interesses quer dos
mercadores, quer das estruturas do poder indígena.
Do ponto de vista
cultural, os fenícios foram os responsáveis pela implementação das primeiras
formas de escrita, sendo a denominada escrita do sudoeste, encontrada no
Algarve e Baixo Alentejo, a adaptação do alfabeto de origem fenícia à realidade
fonética das populações autóctones de então. No entanto, também aqui devemos
referir a introdução de novas técnicas de exploração de minas e de novas formas
de explorar os recursos marinhos, assim como a introdução da roda de oleiro
para o fabrico de cerâmicas, ou a introdução da produção do vinho e do azeite,
produtos que assumiriam grande importância nas comunidades do Mediterrâneo da
Antiguidade.
Jornal do Baixo Guadiana,
Nº152, Janeiro de 2013, p.21.
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