Santo António de Arenilha – Fundada há 500 anos
Assinala-se, no presente
mês de Fevereiro de 2013, os 500 anos da fundação de Santo António de Arenilha.
Apesar do respectivo topónimo já aparecer assinalado no Livro das Fortalezas de Duarte de Armas – livro incumbido por D.
Manuel onde estão representados os castelos e fortalezas existentes na
fronteira portuguesa – não devemos, contudo, partir do pressuposto de que já
ali existiria o dito povoado. Ora, o já mencionado Livro das Fortalezas foi produzido nos primeiros anos do século
XVI, talvez por volta de 1509, e denuncia um topónimo de evidente origem
castelhana que se refere claramente às características arenosas da margem
portuguesa da desembocadura do Guadiana. Porém, só alguns anos mais tarde foi
elaborada a Carta de Privilégio concedida por D. Manuel, em 8 de Fevereiro de
1513, documento régio que determinou a construção de Arenilha: “nossa Villa darenilla que hora mandamos
fazer e edifycar (…) e que nos praz que ha dita Villa seja couto asy e de
maneira que ho he a nossa Villa de Castro Marym”. Desta maneira, pretendia
o “Venturoso” evitar as investidas da pirataria moura (bastante activa na
centúria de quinhentos) e o contrabando de mercadorias (prejudicial aos cofres
da Coroa), através da criação de um couto de homiziados. Não nos podemos esquecer
que toda a erma região entre Cacela e a foz do Guadiana correspondia a um areal
não protegido e pouco vigiado, pelo que se tornava propício a incursões
inimigas e outras actividades ilícitas. Porém, com a criação do referido couto,
forçava-se o povoamento de uma localidade que pudesse vigiar as embarcações da
pirataria magrebina que frequentemente apareciam no horizonte. E, por outro
lado, também o monarca português afirmava a sua soberania política e
administrativa sobre aquele território, para além tirar melhores proventos das
pescarias do mar de Monte Gordo. Com efeito, estas reformas levadas a cabo na
margem portuguesa do Guadiana, no reinado de D. Manuel, não podem nem devem ser
entendidas como um caso pontual ou isolado, mas sim contextualizadas num quadro
mais ambicioso e abrangente; pretendia o soberano português fortalecer seu
reino política e administrativamente (vejam-se as reformas presentes nos forais
manuelinos), para além de assegurar a delimitação e manutenção de suas
fronteiras, (veja-se a incumbência do já referido Livro das Fortalezas de Duarte de Armas).
A verdade é que Santo
António de Arenilha acabaria por ter vida efémera; já em 1600 referia Henrique
Fernandes Sarrão em História do Reino do
Algarve: “os vezinhos são tão poucos,
que não passam de dous” e, inevitavelmente, acabou por se despovoar nos
princípios do século XVII. Contudo, e não obstante a curta vida de Arenilha,
torna-se impossível deixar de referir a visão estratégica D. Manuel no que se
refere à defesa dos interesses da Coroa portuguesa. Uma visão estratégica que,
não se pretendendo iluminada pelas luzes da razão, acabou por se antecipar ao
Marquês de Pombal em mais de dois séculos e meio…
Jornal do Baixo Guadiana,
Nº153, Fevereiro de 2013, p.21.
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