“El asentamiento fenicio más
occidental de la historia está en Ayamonte”?! Não, não está…
Foi no passado dia 12 de Setembro de 2013 que o jornal espanhol La Vanguardia publicou uma notícia
intitulada “El asentamiento fenicio más
occidental de la historia está en Ayamonte”. Segundo este órgão de
comunicação, os especialistas do Instituto Arqueológico Alemão afirmaram
tratar-se do assentamento fenício mais
ocidental da História, avançando uma cronologia de 2800 anos para datar o sítio
arqueológico em questão. Ora, estas declarações não só são altamente
contestáveis, como traduzem um brutal desconhecimento dos estudos arqueológicos
que, nas últimas décadas, têm vindo a ser realizados em Portugal.
A directora do Instituto, Dirce
Marzoli, ainda referiu que em alguns pontos de Portugal foram encontrados
vestígios que indicam uma possível ocupação fenícia. Possível?! Ora, não saberá
a senhora que na outra margem do Guadiana, em Castro Marim, foi identificado um
assentamento fenício e que já deu origem à publicação de vários trabalhos
científicos? Isto já para não falar de outros sítios em contexto algarvio – a
ocidente de Ayamonte – como Tavira ou do Cerro da Rocha Branca, em Silves. De
resto, a presença fenícia no ocidente peninsular está também atestada noutros
pontos correspondentes ao território português. É o caso de Alcácer do Sal,
Setúbal, Abul, Almaraz, Santa Olaia, para além dos materiais identificados em
Conímbriga e que atestam as relações que a população autóctone que ali habitava
mantinha com o mundo fenício.
Ao que parece, continua a
subsistir, em alguns círculos, a errónea ideia da inexistência de estabelecimentos
fenícios a ocidente de Cádiz. Muitas declarações, de alegados entendidos na
matéria, omitem estudos recentes, esquecem trabalhos pioneiros de portugueses
ou, na melhor das hipóteses, explicam os testemunhos arqueológicos disponíveis
no extremo ocidente da Península num contexto de relações comerciais pontuais e
muito esporádicas. Como exemplo podemos apontar a obra dirigida por Olmo
Lete-Eugénia, editada em 1987, “Tiro y las Colónias Fenicias de Occidente”,
onde nem sequer é considerada tal presença no território português. A verdade é que moderna investigação
portuguesa tem vindo a demonstrar a inequívoca presença de estruturas
comerciais e o forte impacto cultural fenício, desde o estuário do rio Guadiana
ao rio Mondego. Nesse sentido, alertamos para a falta de rigor científico de
alguns artigos avançados pelos órgãos de comunicação. Não nos devemos esquecer
que o mediatismo em torno de alguns estudos arqueológicos são fundamentais para
que os mesmos não morram na praia…
Jornal do Baixo Guadiana, Nº159, Outubro de 2013, p.21.
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