Lutgarda
Guimarães de Caires – Nascida há 140 Anos
O presente mês de Novembro de 2013 assinala
os 140 anos do nascimento de uma das mais ilustres figuras de Vila Real de
Santo António: a poetisa Lutgarda Guimarães de Caires. Ilustre? Sim, de facto…
mas para quem? Já em 2007 – ano em que se reeditou Lutgarda Guimarães de Caires, Uma Algarvia Ilustre - escrevia o
saudoso Prof. Doutor António Rosa Mendes: “é uma ilustre vila-realense; e é também uma ilustre desconhecida para os
vila-realenses”. Lamentavelmente, parece que tal condição não mudou muito
(para usar um eufemismo) desde 2007 até à actualidade; os seus conterrâneos
desconhecem o legado cultural da supra citada, e a estátua que bem
intencionadamente lhe presta homenagem acabou por resumir-se a pano de fundo
para duvidosas sessões fotográficas de teor facebookiano.
Compete-nos, portanto, expor um pouco da sua vida e obra de maneira a assinalar
a efeméride.
Lutgarda Guimarães de Caires nasceu em Vila
Real de Santo António, em 13 de Novembro de 1873. Deixou o Algarve ainda jovem,
passando a viver em Lisboa, onde veio a casar com o advogado João de Caires,
homem culto e aficionado de tertúlias e serões culturais. O falecimento de uma
filha parece estar na origem da sua poesia melancólica e das regulares visitas
às crianças enfermas no Hospital D. Maria Estefânia. Foi ela, aliás, a
impulsionadora do Natal dos Hospitais, então designado Natal das Crianças dos
Hospitais. A sua acção cívica passou pela denúncia das humilhantes condições em
que viviam as mulheres nas cadeias portuguesas. Para além disso, reivindicou
mais direitos para as mulheres, transformando-se numa pré-feminista, o que
acaba por aproximá-la (com as devidas diferenças) de figuras como Maria Veleda,
outra algarvia que se evidenciou no contexto do movimento feminista português.
Lutgarda faleceu em 1935. Foi autora de vários livros, quer no domínio da prosa
quer no domínio da poesia. Algumas destas obras, como “Sombras e Cinzas”,
“Pombas Feridas”, “Violetas” ou “Glycinias” podem ser consultadas na Biblioteca
Vicente Campinas. Mas perguntemo-nos: que tem sido feito no sentido de
preservar a sua memória e o seu legado cultural? Em 1937, o seu nome foi dado a
um largo, em Vila Real de Santo António. Em 1966 foi apresentado um busto junto
ao rio Guadiana (actualmente desterrado para local menos visitado) e, em 2005,
foi erguida uma estátua de corpo inteiro, da autoria do escultor vila-realense
Nuno Rufino. Porém, e ainda que todas estas iniciativas sejam louváveis, não
nos devemos esquecer que as estátuas são mudas e que foi o uso da palavra que
evidenciou Lutegarda. Já dizia o simbolista Camilo Pessanha, no seu poema Estátua: “cansei-me de tentar o teu segredo”. Talvez esteja na hora de
desvendar o quase segredo que é obra de Lutgarda Guimarães de Caires, através
de encontros literários ou de outras iniciativas que perpetuem o seu legado…
Jornal do Baixo Guadiana,
Nº162, Novembro de 2013, p.19.
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