A Nobreza no Algarve
A ideia de uma verdadeira
nobreza no Reino do Algarve nem sempre foi consensual entre os historiadores,
tendo mesmo vindo a ser assunto de discussão entre a comunidade académica ao
longo dos últimos anos. Como diria Joaquim Romero de Magalhães, em O Algarve Económico (1600-1773), no
Algarve “nada é grande, e não há Grandes”.
Contudo, talvez devêssemos analisar mais atentamente o assunto.
A verdade é que, desde
sempre, o Algarve foi uma região periférica, marginal e marginalizada no
contexto português, uma região física e politicamente distante da corte e do
centro das decisões políticas. Assim sendo, será que podemos falar numa
verdadeira nobreza no Algarve? Ora vejamos: parte da conquista do território
algarvio aos mouros foi levada a cabo pela Ordem de Santiago, através da acção
de D. Paio Peres Correia, sem que a grande nobreza estivesse envolvida. Se
exceptuarmos a conquista de Ayamonte, onde alegadamente terá estado presente D.
Sancho II, só voltamos a ter a presença de um monarca na conquista de Faro,
onde se notou uma considerável ausência da nobreza convocada para a dita
empresa.
Porém, a Expansão
Portuguesa para o Norte de África, no decorrer do séc. XV e XVI, acabaria por
fixar algumas famílias nobres no Reino do Algarve, tal como o comprovam os
estudos mais recentes. Miguel Côrte-Real, por exemplo, defende que a nobreza do
Algarve - mesmo que se tratasse de uma baixa nobreza - detinha na região o
poder militar, judicial, político e simbólico, o que parece vir de encontro ao
testemunho deixado em 1577 por Frei João de São José. A sua Chorographia do Reino do
Algarve refere o seguinte em relação à nobreza de Tavira: “porque Tavira é povoada de toda ou da mais
fidalguia do reino e nela se acham pessoas de todas as gerações nobres de
Portugal, porque, como da conquista dos lugares de África em que os reis
trabalharam muito tempo, esta fosse a escala, onde todos acudiam, achando-se os
homens nela favorecidos pela natureza, fizeram nela seu assento. Há nela Melos,
Cunhas, Corte-Reais, Paçanhas, Barretos, Pantojas, Correas, Ichoas, Viegas e
outra muita gente nobre que nela mora e que está derramada por suas quintas e
fazendas”.
É neste contexto que
encontramos no Algarve fidalgos que acumularam títulos e rendas em virtude das
suas glórias militares em Marrocos, como os Ataídes, ligados à capitania de
Safim, ou os Menezes, ligados à capitania de Ceuta. No entanto, o paulatino
abandono das praças marroquinas, a partir de meados do séc. XVI, trouxe a
decadência económica e urbana ao Algarve, responsável pelo socorro e
abastecimento das possessões no Algarve Dalém Mar. Os séculos XVII e XVIII
acabaram por lançar a nobreza algarvia a um isolamento forçado, ruralizando os
fidalgos nas suas quintas, e tornando-os nos nobres de província que viriam a
contrair matrimónio com a plebe endinheirada; uns com o título, outros com o
dinheiro, ou seja: juntava-se a fome com a vontade de comer. E onde anda
actualmente essa baixa nobreza de outrora? Por aí… cruzamo-nos com eles todos
os dias, nas ruas das nossas cidades algarvias.
Jornal do Baixo Guadiana, Nº148, Setembro
de 2012, p.21.
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