A fundação de Vila Real
de Santo António, a maior e mais significativa realização iluminista efectuada
em Portugal, resultou da estratégica política, económica e territorial
concebida pelo Marquês de Pombal, em finais de 1773, visando a afirmação do
Estado Português face ao Estado Espanhol. Já em 1982 dizia o Prof. Doutor José
Eduardo Horta Correia na Comunicação apresentada no 2º Simpósio de Urbanismo e
História Urbana, em Madrid: “Vila real de
Santo António, construída em 1774 num areal desértico perto da foz do Guadiana,
constitui um exemplo muito interessante de urbanismo iluminista e o único caso
de edificação de uma cidade «ex-voto» da época pombalina, depois da
reconstrução de Lisboa de 1755”.
Com efeito, a edificação
da cidade foi bastante rápida; em 17 de Março de 1774 foi lançada a primeira
pedra e no dia 6 de Agosto do mesmo ano já estavam terminadas as Casas da
Câmara e da Alfândega, e começava-se a construção da igreja. Os edifícios foram
construídos da mesma forma que os da baixa de Lisboa, à base de peças
pré-fabricadas que depois eram aplicadas no local, tornando a construção mais
rápida e uniforme. A cidade desenvolvia-se numa malha urbana ortogonal
perfeita, centrada na Praça Marquês de Pombal. Uma grande marginal percorria as
várias centenas de metros que separavam o aglomerado urbano do rio Guadiana. A
nova vila iluminista, voltada estrategicamente para Espanha, viria a ser
inaugurada a 13 de Maio de 1776, assinalando o aniversário de Sebastião José de
Carvalho e Melo e reforçando a barreira natural que marca a divisão política e administrativa
de uma fronteira que remonta à segunda metade do século XIII, aquando da
conquista do Reino do Algarve aos Mouros por D. Afonso III.
Deste modo, a nova vila
régia desempenharia as funções do extinto aglomerado populacional de Santo
António de Arenilha, povoação criada através de uma antiga Carta de Privilégio
concedida por D. Manuel em 8 de Fevereiro de 1513 e despovoada nos inícios do
séc. XVII em virtude das investidas da pirataria moura e da ameaça do avanço
das águas do mar. Por outro lado, a fundação da nova vila régia impediria
também o contrabando, a evasão fiscal, e a livre pesca castelhana praticada no
mar de Monte Gordo, permitindo ao Estado português o aproveitamento das
potencialidades internas da região e aumentando a produção nacional através do Plano de Restauração do Reino do Algarve.
Jornal do Baixo Guadiana,
Nª 132, Maio de 2011, p.25.
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