O Algarve destacou-se
desde sempre no contexto nacional, não apenas por se tratar de uma região
marginal e periférica, mas também pela sua singularidade cultural, histórica e
patrimonial. A própria designação, Al
Gharb, denuncia a única região do país com topónimo de origem árabe. Esta
designação, que significa “o ocidente”, passou a referir-se à região sudoeste
da Península Ibérica a partir de 711, aquando das invasões árabes e berberes da
Península Ibérica lideradas por Tarik Ali Ibn Zyad. Desta forma, o Gharb designava um território, com
limites algo imprecisos, a ocidente do território compreendido como Al Andaluz.
No decurso da conquista
cristã, o Gharb acaba por ser
conquistado aos mouros. D. Sancho I, em 1189, chega a conquistar Silves aos
almóadas com o auxílio dos cruzados com destino à Terra Santa, no entanto, os
mouros voltam a reconquistar a cidade em 1191. A conquista definitiva do
Algarve dá-se no reinado de D. Afonso III, em 1249, com a conquista de Faro,
Loulé, Albufeira e Aljezur, depois da Ordem de Santiago, através da acção de D.
Paio Peres Correia, já ter conquistado Mértola, Alcoutim, Ayamonte, Castro
Marim e Cacela nos anos anteriores. Com o Tratado de Badajoz de 1267, Afonso
III de Portugal e Afonso X de Castela definem as fronteiras dos dois reinos,
passado a fazer parte integrante da coroa portuguesa os territórios
conquistados a ocidente do Rio Guadiana. No entanto, as divergências que
continuaram a subsistir só viriam a ser resolvidas entre D. Dinis de Portugal e
Fernando IV de Castela através do Tratado de Alcañices, em 1297.
A
verdade é que os cinco séculos de domínio islâmico no Algarve deixaram
profundas marcas nos mais variados domínios da “cultura algarvia”. Podemos
encontrar vestígios da ocupação islâmica no património linguístico, artístico,
arquitectónico e arqueológico, o que, do ponto de vista patrimonial, revela a
singularidade da região no contexto cultural português, tornando-se, portanto,
imperativo a salvaguarda do mesmo património de modo a preservar o carácter
excepcional que a região tem à escala nacional. A defesa, salvaguarda e
valorização do património histórico do Algarve num momento em que o mundo
enfrenta os preocupantes efeitos da globalização, é mais que uma mera
necessidade estratégica; trata-se de uma imperativa responsabilidade das
autarquias, das entidades culturais competentes e de todos os algarvios em
geral.
Jornal
do Baixo Guadiana, Nª 131, Abril 2011, p.21.
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