sexta-feira, 13 de julho de 2012

A Singularidade Patrimonial do Algarve



                                                                  
O Algarve destacou-se desde sempre no contexto nacional, não apenas por se tratar de uma região marginal e periférica, mas também pela sua singularidade cultural, histórica e patrimonial. A própria designação, Al Gharb, denuncia a única região do país com topónimo de origem árabe. Esta designação, que significa “o ocidente”, passou a referir-se à região sudoeste da Península Ibérica a partir de 711, aquando das invasões árabes e berberes da Península Ibérica lideradas por Tarik Ali Ibn Zyad. Desta forma, o Gharb designava um território, com limites algo imprecisos, a ocidente do território compreendido como Al Andaluz.
No decurso da conquista cristã, o Gharb acaba por ser conquistado aos mouros. D. Sancho I, em 1189, chega a conquistar Silves aos almóadas com o auxílio dos cruzados com destino à Terra Santa, no entanto, os mouros voltam a reconquistar a cidade em 1191. A conquista definitiva do Algarve dá-se no reinado de D. Afonso III, em 1249, com a conquista de Faro, Loulé, Albufeira e Aljezur, depois da Ordem de Santiago, através da acção de D. Paio Peres Correia, já ter conquistado Mértola, Alcoutim, Ayamonte, Castro Marim e Cacela nos anos anteriores. Com o Tratado de Badajoz de 1267, Afonso III de Portugal e Afonso X de Castela definem as fronteiras dos dois reinos, passado a fazer parte integrante da coroa portuguesa os territórios conquistados a ocidente do Rio Guadiana. No entanto, as divergências que continuaram a subsistir só viriam a ser resolvidas entre D. Dinis de Portugal e Fernando IV de Castela através do Tratado de Alcañices, em 1297.
         A verdade é que os cinco séculos de domínio islâmico no Algarve deixaram profundas marcas nos mais variados domínios da “cultura algarvia”. Podemos encontrar vestígios da ocupação islâmica no património linguístico, artístico, arquitectónico e arqueológico, o que, do ponto de vista patrimonial, revela a singularidade da região no contexto cultural português, tornando-se, portanto, imperativo a salvaguarda do mesmo património de modo a preservar o carácter excepcional que a região tem à escala nacional. A defesa, salvaguarda e valorização do património histórico do Algarve num momento em que o mundo enfrenta os preocupantes efeitos da globalização, é mais que uma mera necessidade estratégica; trata-se de uma imperativa responsabilidade das autarquias, das entidades culturais competentes e de todos os algarvios em geral.

Jornal do Baixo Guadiana, Nª 131, Abril 2011, p.21.

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