sábado, 19 de julho de 2014

Crítica a "O Pianista e a Cantora", por Anabela Baptista


"Uma nova experiência de leitura…
A Coolbooks nasceu para lançar novos escritores, no formato digital, e eu fui lá descobrir o jovem, talentoso e promissor Fernando Pessanha, escritor, músico e historiador (não sei se é esta a ordem), do Algarve.
O e-book "O pianista e a cantora" é uma obra enigmática e fascinante.
Primeiro, pelo formato- gosto muito de ler, livros em papel, mas como migrante digital já me deixei seduzir pelos e-books.
Depois, porque este livro tem atributos e condimentos que nos cativam do princípio ao fim, sem espaço para monotonias ou páginas sem sabor:
- o enquadramento histórico-cultural muito pormenorizado e rigoroso; referências e interferências musicais do primeiro ao último capítulo e descrições tão sugestivas que nos transportam como que por magia ( a magia da leitura) para os espaços e momentos da narração (Marrocos e Portugal) e nos contagiam com aromas, cores e sonoridades;
- o permanente conflito entre a racionalidade, as convenções impostas e artificiais e as emoções e os desejos mais puros e espontâneos, irrefletidos e quase animalescos, intrínsecos à natureza humana, que pode incomodar-nos porque, afinal, diz respeito à nossa própria existência;
- o misticismo, com profecias subtis que perpassam toda a história e que parecem comandar as atitudes e as ações de algumas personagens.
Muito mais haveria a dizer deste livro, mas convido-vos apenas a ter a vossa própria experiência com "O pianista e a Cantora", de Fernando Pessanha".

 
(Crítica publicada na página de facebook da autora em 29 de Junho de 2014)

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Hotel Anaidaug


O Arquivo Histórico Municipal de Vila Real de Santo António recebe, no próximo dia 10 de Janeiro, pelas 18:00, a inauguração da exposição de ilustrações “Hotel Anaidaug/Encontros Improváveis”, de Artur Filipe, e a apresentação do livro “Hotel Anaidaug”, de Fernando Pessanha.

A exposição, que ficará patente ao público até dia 31 de Janeiro, consiste no conjunto de ilustrações que o artista produziu para as obras de ficção de Fernando Pessanha. De acordo com o escritor, o novo livro, “Hotel Anaidaug”, consiste num «breve enredo inspirado na história do mais antigo hotel do Algarve, porém, uma história alternativa, já que tem lugar numa realidade paralela». A obra, publicada pela editora 4Águas, faz parte da colecção “Onda Curta” e já tem várias apresentações marcadas em Portugal e em Espanha. A apresentação no Arquivo Histórico Municipal de VRSA está a cargo de Luís Romão e contará com a presença do editor da 4Águas, Fernando Esteves Pinto.



 


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Guarda Nacional Republicana – Chegou a Vila Real de Santo António há 100 Anos


O presente mês de Dezembro de 2013 assinala os 100 anos da Guarda Nacional Republicana em Vila Real de Santo António. Porém, e de modo a percebermos em que conjuntura histórica e política foi implementada esta força de segurança, façamos uma breve mas necessária retrospectiva. Depois do golpe de Estado de 5 de Outubro de 1910, que substituiu a Monarquia Constitucional pelo Regime Republicano, a Guarda Municipal de Lisboa e Porto foi transformada na Guarda Republicana de Lisboa e Porto. Curiosamente, a obstinada Guarda Municipal foi a última força monárquica a render-se aos revolucionários republicanos. Nesse sentido, não deixa de ser irónico o facto de se ter transformado na única força portuguesa que passou a apresentar a designação de "Republicana".

Posteriormente, em 3 de Maio de 1911, a Guarda Republicana de Lisboa e Porto foi transformada na Guarda Nacional Republicana. Não obstante os necessitados avatares que que tão bem caracterizaram os primeiros anos da República portuguesa, a implementação da GNR no Algarve foi um processo não particularmente célere. De acordo com alguma documentação à guarda do Arquivo Municipal de Vila Real de Santo António (Correspondência Geral Recebida e Expedida - 1913), o processo relativo à implementação da GNR na vila pombalina apenas teve início em meados de 1913, ou seja; dois anos após a criação da supra citada força de segurança, e numa altura em que os distritos de Braga, Bragança, Porto, Santarém, Castelo Branco, Portalegre, Évora e Beja e Lisboa já contavam com postos em todas as sedes de Concelho!

 Numa circular emitida pelo Comando Geral da GNR, em 5 de Julho de 1913, e dirigida ao então presidente da Câmara Municipal de VRSA, o 2º comandante responsável pelo processo solicitava à autarquia “quartel para a secção e posto destinados a esse concelho e mobilia e utensilios”. Neste sentido, não pudemos deixar de reparar nos “escarradores hygienicos” briosamente oferecidos pela autarquia-vila-realense, com o “altruísmo digno de todo o louvor” que a GNR esperava da Câmara Municipal de VRSA. No mês de Agosto, as instalações foram visitadas pelo delegado do Comando Geral e pelo oficial de engenharia, “afim de procederem á inspecção do quartel destinado ao posto da Guarda Nacional Republicana”. De acordo com uma circular de Novembro do mesmo ano, a secção da guarda destacada para o quartel de VRSA deveria seguir no “proximo dia 2 (de Dezembro) no comboio da noute”. Razão pela qual aqui assinalamos os 100 anos da implementação da Guarda Nacional Republicana em Vila Real de Santo António.

                                                         

Jornal do Baixo Guadiana, Nº163, Dezembro de 2013, p.21.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Hotel Anaidaug


 
 
Caros amigos e amigas, é com enorme prazer que vos comunico a publicação do meu novo trabalho, “Hotel Anaidaug”. Trata-se de um breve enredo inspirado na história do mais antigo hotel do Algarve, porém, uma história alternativa, já que tem lugar numa realidade paralela. A obra, publicada pela editora 4Águas, faz parte da colecção “Onda Curta” e conta com um conjunto de ilustrações da autoria do artista farense Artur Filipe, tendo já várias apresentações marcadas em Portugal e em Espanha. A primeira apresentação está a cargo de Luís Romão, e contará com a presença do editor Fernando Esteves Pinto. A sessão terá lugar no Arquivo Histórico Municipal de Vila Real de Santo António, pelas 18:00 do próximo dia 10 de Janeiro de 2014.

domingo, 1 de dezembro de 2013

1 Dezembro de 2012 e os 372 anos da Restauração de que Independência?

 
1 Dezembro de 2012 e os 372 anos da Restauração de que Independência?

 

A História de Portugal está repleta de acontecimentos que passaram à posteridade em virtude do grau de importância de que se revestem. Um desses episódios teve lugar no dia 1 de Dezembro de 1640, pelo que o presente ano de 2012 assinala os 372 anos da Restauração da Independência portuguesa. A também denominada “conspiración de 1640” – como diriam os nossos vizinhos espanhóis - foi planeada por um conjunto de personalidades portuguesas, entre os quais D. Antão de Almada, D. Miguel de Almeida, e João Pinto Ribeiro, entre outros fidalgos. Desta “conspiração” resultou a morte do secretário de Estado, Miguel de Vasconcelos, e o aprisionamento de Margarita de Sabóia, a duquesa que governava Portugal em nome do seu primo, Felipe IV de Espanha. Foi então aclamado o duque de Bragança como rei de Portugal, com o título de João IV, dando início à dinastia de Bragança, a quarta dinastia da monarquia portuguesa. Deste modo, deu-se origem a 28 anos de uma guerra pautada por inúmeras escaramuças nas proximidades da fronteira, e cinco batalhas principais, todas elas ganhas pelos portugueses. Somente depois da batalha dos Montes Claros, em 17 de Junho de 1665, é que a paz foi estabelecida, através da assinatura do Tratado de Lisboa de 1668.

É claro que, para Espanha, a Guerra da Independência portuguesa só foi bem-sucedida, não devido à sagacidade e ao esforço dos portugueses, mas à sublevação da Catalunha! Sublevação essa que o duque de Olivares pretendeu esmagar com o envio de tropas portuguesas, como se não bastassem os impostos e os recursos humanos que Portugal enviava para as guerras que a Espanha mantinha pela Europa, enquanto as colónias portuguesas eram sistematicamente assaltadas sem que o governo de Madrid se dignasse a tomar qualquer tipo de medida. Esquecem-se os nossos vizinhos espanhóis que se Espanha combatia por esses anos em vários cenários de guerra, também Portugal combatia em diversas frentes por esses anos da Guerra da Restauração: combatia Espanha na frente que era a fronteira portuguesa, e combatia a Holanda, a França e a pirataria inglesa nas frentes que representavam o Brasil, a África e a Ásia. O esforço de guerra de Portugal durante esse problemático século XVII foi, de facto, notável, e não pode nem deve ser esquecido. Mais: deve servir de exemplo para lutarmos contra quem compromete a nossa independência, delapidando o país em virtude dos interesses estrangeiros. Resumindo, no dia 1 de Dezembro comemora-se a Restauração da Independência portuguesa, porém, e não obstante a importância simbólica deste dia, os nossos governantes, enquanto pessoas esclarecidíssimas, preparam-se para suprimir este feriado, dando prevalência aos feriados religiosos (Imagine-se! Pensávamos nós que vivíamos num Estado laico, mas afinal andámos enganados…). E porquê erradicar exactamente os feriados representativos das revoluções que marcaram a nossa História, como o feriado relativo à Restauração da Independência ou à Implantação da República? Pretender-se-á evitar ambientes propícios a uma nova e legítima revolução? Ora, lá diz o ditado: “quem não deve não teme”…

 

Artigo inédito (Recusado por vários jornais algarvios).

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Lutgarda Guimarães de Caires – Nascida há 140 Anos


Lutgarda Guimarães de Caires – Nascida há 140 Anos

 


 
O presente mês de Novembro de 2013 assinala os 140 anos do nascimento de uma das mais ilustres figuras de Vila Real de Santo António: a poetisa Lutgarda Guimarães de Caires. Ilustre? Sim, de facto… mas para quem? Já em 2007 – ano em que se reeditou Lutgarda Guimarães de Caires, Uma Algarvia Ilustre - escrevia o saudoso Prof. Doutor António Rosa Mendes: “é uma ilustre vila-realense; e é também uma ilustre desconhecida para os vila-realenses”. Lamentavelmente, parece que tal condição não mudou muito (para usar um eufemismo) desde 2007 até à actualidade; os seus conterrâneos desconhecem o legado cultural da supra citada, e a estátua que bem intencionadamente lhe presta homenagem acabou por resumir-se a pano de fundo para duvidosas sessões fotográficas de teor facebookiano. Compete-nos, portanto, expor um pouco da sua vida e obra de maneira a assinalar a efeméride.

Lutgarda Guimarães de Caires nasceu em Vila Real de Santo António, em 13 de Novembro de 1873. Deixou o Algarve ainda jovem, passando a viver em Lisboa, onde veio a casar com o advogado João de Caires, homem culto e aficionado de tertúlias e serões culturais. O falecimento de uma filha parece estar na origem da sua poesia melancólica e das regulares visitas às crianças enfermas no Hospital D. Maria Estefânia. Foi ela, aliás, a impulsionadora do Natal dos Hospitais, então designado Natal das Crianças dos Hospitais. A sua acção cívica passou pela denúncia das humilhantes condições em que viviam as mulheres nas cadeias portuguesas. Para além disso, reivindicou mais direitos para as mulheres, transformando-se numa pré-feminista, o que acaba por aproximá-la (com as devidas diferenças) de figuras como Maria Veleda, outra algarvia que se evidenciou no contexto do movimento feminista português. Lutgarda faleceu em 1935. Foi autora de vários livros, quer no domínio da prosa quer no domínio da poesia. Algumas destas obras, como “Sombras e Cinzas”, “Pombas Feridas”, “Violetas” ou “Glycinias” podem ser consultadas na Biblioteca Vicente Campinas. Mas perguntemo-nos: que tem sido feito no sentido de preservar a sua memória e o seu legado cultural? Em 1937, o seu nome foi dado a um largo, em Vila Real de Santo António. Em 1966 foi apresentado um busto junto ao rio Guadiana (actualmente desterrado para local menos visitado) e, em 2005, foi erguida uma estátua de corpo inteiro, da autoria do escultor vila-realense Nuno Rufino. Porém, e ainda que todas estas iniciativas sejam louváveis, não nos devemos esquecer que as estátuas são mudas e que foi o uso da palavra que evidenciou Lutegarda. Já dizia o simbolista Camilo Pessanha, no seu poema Estátua: “cansei-me de tentar o teu segredo”. Talvez esteja na hora de desvendar o quase segredo que é obra de Lutgarda Guimarães de Caires, através de encontros literários ou de outras iniciativas que perpetuem o seu legado…

 

Jornal do Baixo Guadiana, Nº162, Novembro de 2013, p.19.

domingo, 6 de outubro de 2013

“El asentamiento fenicio más occidental de la historia está en Ayamonte”?! Não, não está...


“El asentamiento fenicio más occidental de la historia está en Ayamonte”?! Não, não está…

 

Foi no passado dia 12 de Setembro de 2013 que o jornal espanhol La Vanguardia publicou uma notícia intitulada “El asentamiento fenicio más occidental de la historia está en Ayamonte”. Segundo este órgão de comunicação, os especialistas do Instituto Arqueológico Alemão afirmaram tratar-se do assentamento fenício mais ocidental da História, avançando uma cronologia de 2800 anos para datar o sítio arqueológico em questão. Ora, estas declarações não só são altamente contestáveis, como traduzem um brutal desconhecimento dos estudos arqueológicos que, nas últimas décadas, têm vindo a ser realizados em Portugal.

A directora do Instituto, Dirce Marzoli, ainda referiu que em alguns pontos de Portugal foram encontrados vestígios que indicam uma possível ocupação fenícia. Possível?! Ora, não saberá a senhora que na outra margem do Guadiana, em Castro Marim, foi identificado um assentamento fenício e que já deu origem à publicação de vários trabalhos científicos? Isto já para não falar de outros sítios em contexto algarvio – a ocidente de Ayamonte – como Tavira ou do Cerro da Rocha Branca, em Silves. De resto, a presença fenícia no ocidente peninsular está também atestada noutros pontos correspondentes ao território português. É o caso de Alcácer do Sal, Setúbal, Abul, Almaraz, Santa Olaia, para além dos materiais identificados em Conímbriga e que atestam as relações que a população autóctone que ali habitava mantinha com o mundo fenício.

Ao que parece, continua a subsistir, em alguns círculos, a errónea ideia da inexistência de estabelecimentos fenícios a ocidente de Cádiz. Muitas declarações, de alegados entendidos na matéria, omitem estudos recentes, esquecem trabalhos pioneiros de portugueses ou, na melhor das hipóteses, explicam os testemunhos arqueológicos disponíveis no extremo ocidente da Península num contexto de relações comerciais pontuais e muito esporádicas. Como exemplo podemos apontar a obra dirigida por Olmo Lete-Eugénia, editada em 1987, “Tiro y las Colónias Fenicias de Occidente”, onde nem sequer é considerada tal presença no território português. A verdade é que moderna investigação portuguesa tem vindo a demonstrar a inequívoca presença de estruturas comerciais e o forte impacto cultural fenício, desde o estuário do rio Guadiana ao rio Mondego. Nesse sentido, alertamos para a falta de rigor científico de alguns artigos avançados pelos órgãos de comunicação. Não nos devemos esquecer que o mediatismo em torno de alguns estudos arqueológicos são fundamentais para que os mesmos não morram na praia…

 

Jornal do Baixo Guadiana, Nº159, Outubro de 2013, p.21.