terça-feira, 20 de novembro de 2012


Damião António de Lemos Faria e Castro
– um fidalgo algarvio refugiado em Ayamonte

 

Damião António de Lemos Faria e Castro, figura excêntrica e singular no contexto do Algarve setecentista, viveu entre 1715 e 1789 em Vila Nova de Portimão, terra que reivindica a memória da púnica Portus Hannibalis, e Faro, a Ossonoba da antiguidade. Em Vila Nova de Portimão, Faria e Castro cursou até cerca dos vinte anos a instrução elementar com os jesuítas, no Colégio de São Francisco Xavier. Mudou-se posteriormente para Faro, cidade mais propícia às necessidades culturais e “espirituais” do fidalgo algarvio e, onde efectivamente, instalou faustosa residência para viver “à lei da nobreza”.

Foi autor de “Aula da Nobreza Lusitana”, e de “História Geral de Portugal e suas Conquistas”, obras essas que recorrem frequentemente a autores espanhóis e que bem atestam as relações de Faria e Castro com o país vizinho. Não será, portanto, de estranhar que, quando perseguido pela justiça portuguesa, o nobre algarvio se tenha refugiado em Ayamonte durante cerca de dois anos, entre 1749 e 1750. A verdade é que Faria e Castro escrevia correntemente em castelhano, tendo mesmo sido autor de alguns opúsculos que mandou imprimir em Sevilha, o centro impressor mais próximo do Algarve. A dedicatória de Epifonema Epicédico, o primeiro opúsculo redigido em Ayamonte, data de 16 de Julho de 1749, e nele está presente uma homenagem à Rainha D. Maria Bárbara e um elogio ao Duque de Cadaval, falecido aquando da jornada que levou Faria e Castro ao exílio. Contudo, não ficou por aqui a produção literária deste pretenso educador da nobreza lusitana, durante os anos do seu exílio em Ayamonte. Redigiu inúmeras obras em língua portuguesa, mas também em língua castelhana, como o “Oraculo de si mismo, el Catholico, Grande, Augusto, y Invicto Monarca Don Fernando el VI. Rey de España…”, para além de outras obras que chegaram até nós manuscritas, como a “Relación Geográfico-Historica de algunos terrenos de la Frontera de Portugal, Y España, desde Ayamonte hasta Badajoz”. A sorte de Damião António de Lemos Faria e Castro acabou por mudar após o falecimento do rei D. João V. Em 12 de Agosto de 1750 escreveu uma dedicatória ao novo rei português, D. José I e, uma vez perdoado, pôde finalmente regressar a Faro, no final desse mesmo ano.

De salientar que, anos mais tarde, em 1776, o próprio Faria e Castro esteve presente nas festas da inauguração de Vila Real de Santo António, tendo mesmo descrito as festividades nos capítulos I e II do Livro III do derradeiro tomo de “História Geral de Portugal e suas Conquistas”, (recusado pela censura em 1787). Descrição onde não deixa de manifestar a sua hostilidade em relação à decisão do Marquês de Pombal em proceder à “nova fundação da notável Vila Real nos areais do Guadiana para fazer frente a Ayamonte”, a sua acarinhada cidade dos tempos do “degredo”…

Para a História fica o exílio deste nobre algarvio em Ayamonte, e para eventuais interessados na biografia desta interessante figura do séc. XVIII português, recomenda-se ainda a leitura de “Cultura e Política no Algarve Setecentista – Damião Faria e Castro, (1715-1789), aturada obra da autoria do Prof. Doutor António Rosa Mendes, e publicada pela editora Gente Singular.


Jornal do Baixo Guadiana, Nº150, Novembro de 2012, p.21.