segunda-feira, 14 de janeiro de 2013


Os Fenícios no Algarve

 

Desde a longínqua Proto-História que o território algarvio recebeu povos oriundos do Mediterrâneo oriental, sendo os fenícios pioneiros nas viagens que os trouxeram aos confins do mundo conhecido de então. Mas quem eram estes fenícios? Em que regiões do Algarve se estabeleceram? E qual o seu legado cultural?

Os fenícios foram um povo que ocupou o antigo território de Canaã, que corresponde grosso modo ao actual território do Líbano, por volta de 1200 a. C. Fundaram várias Cidades-Estado, nomeadamente Biblos, Sídon e Tiro, onde o comércio era a actividade principal. A sua expansão foi desencadeada devido ao declínio das potências continentais da região e também ao desaparecimento da marinha de Creta e de Micenas, potências navais do II milénio a.C. do Mediterrâneo oriental. Até ao séc. V a. C., quando os gregos começaram a cruzar os mares e a fundar colónias e entrepostos, os fenícios dominaram o comércio mediterrânico, não tendo concorrência durante mais de trezentos anos. A grande riqueza mineira da Península Ibérica, da qual faz parte o Algarve, atraiu desde cedo a atenção deste povo. A razão inicial da sua presença no ocidente está certamente relacionada com a procura de metais como cobre, prata, estanho e ouro, não se limitando exclusivamente a esta actividade, como também ao desenvolvimento de feitorias e à riquíssima indústria da salga de peixe.

De acordo com os autores greco-latinos como Veleio Patérculo, Estrabão, Diodoro ou Plínio, a fundação das primeiras colónias fenícias no Ocidente deu-se por volta de 1100 a. C., porém, esta informação levanta muitas dúvidas ao nível do registo arqueológico, pois as cronologias determinadas para os materiais arqueológicos raramente antecedem o séc. VIII a. C. No contexto algarvio temos conhecimento de assentamentos fenícios em Castro Marim e no Cerro da Rocha Branca, em Silves. Contudo, é provável que também Tavira ou Faro tenham recebido estabelecimentos fenícios, pois tanto as condições geomorfológicas (localizações em promontórios próximos de estuários de rios), como os topónimos latinos de Balsa e Ossonoba poderão ter origem fenícia. Estes estabelecimentos localizados nos estuários de rios como o Guadiana, o Gilão ou o Arade, constituíram uma rede de navegação de cabotagem, através da qual se podiam estabelecer relações comerciais com as populações locais. De resto, estas bases de assentamento poderiam assumir diferentes formas, como colónias, feitorias ou entrepostos comerciais, sendo estes resultado dos interesses quer dos mercadores, quer das estruturas do poder indígena.

Do ponto de vista cultural, os fenícios foram os responsáveis pela implementação das primeiras formas de escrita, sendo a denominada escrita do sudoeste, encontrada no Algarve e Baixo Alentejo, a adaptação do alfabeto de origem fenícia à realidade fonética das populações autóctones de então. No entanto, também aqui devemos referir a introdução de novas técnicas de exploração de minas e de novas formas de explorar os recursos marinhos, assim como a introdução da roda de oleiro para o fabrico de cerâmicas, ou a introdução da produção do vinho e do azeite, produtos que assumiriam grande importância nas comunidades do Mediterrâneo da Antiguidade.

 

Jornal do Baixo Guadiana, Nº152, Janeiro de 2013, p.21.