terça-feira, 2 de abril de 2013


Garcia de Melo –

Alcaide-mor de Castro Marim e anadel-mor dos besteiros

 


 

Já aqui referimos - na edição de Novembro de 2011 – a figura de António Leite, Senhor de Arenilha, enquanto protótipo do cavaleiro português da era de quinhentos que, através da carreira das armas e dos serviços prestados à Coroa no Algarve Dalém, viu os seus esforços serem coroados com honras e títulos no Algarve Daquém. Outro desses casos foi o de Garcia de Melo, alcaide-mor de Castro Marim e anadel-mor dos besteiros. Com efeito, as conquistas portuguesas em Marrocos implicaram, desde logo, a fixação de oficiais régios, muitas vezes pertencentes à pequena nobreza, para desempenharem cargos de chefia militar e administrativa nas praças lusas do Norte de África. Garcia de Melo foi um desses cavaleiros que, bem ao espírito da época, procurou promoção social através da carreira das armas no teatro de guerra hostil que era a presença portuguesa em Marrocos.

Sabemos que, em 1504, liderou um vitorioso ataque a Larache (العرائش), na altura um conhecido ninho de piratas que incansavelmente atacava as costas do Algarve. Nesse ataque capturou cinco galeotas, dois bergantins e uma caravela, tendo incendiado uma galé e três outras caravelas. Segundo “Garcia de Melo em Castro Marim…”, de Luís Miguel Duarte, o fidalgo terá ajudado na construção da fortaleza de Santa Cruz do Cabo de Gué (actual Agadir أڭادير), em 1505. Em 1508, encontramo-lo como anadel-mor dos besteiros de Arzila (أصيلة), e no mesmo ano participou na conquista de Safim (آسفي), tendo depois sido encarregado da defesa marítima da praça recém-conquistada. Não sabemos, ao certo, em que ano foi investido com a alcaidaria de Castro Marim, contudo, uma carta que foi datada de 1509 (A.N.T.T., Gaveta 20, Maço V, nº 14), apresenta-o como alcaide-mor desta praça de guerra do Algarve, nesse mesmo ano.

Nos anos seguintes voltamos a encontrá-lo em Marrocos: em 1513 está presente na conquista de Azamor (أزمور), e ano seguinte socorre Safim com os seus barcos, perante a ameaça de um cerco inimigo. Em 1515 conheceu, finalmente, o travo da derrota, na malograda expedição portuguesa à barra de Mamora (المهدية) e, em1516 socorreu o cerco a Arzila com doze caravelas, juntamente com Rui Barreto, vedor da fazenda do Algarve. Não sabemos quando nem onde morreu este bellator português. Porém, a sua extraordinária vida de aventuras e de serviços prestados à Coroa, acabou por ser coroada com a capitania da praça mais temida e importante do dispositivo português no sul de Marrocos; a capitania de Safim, entre 1526 e 1529.

 

Jornal do Baixo Guadiana, Nº155, Abril de 2013, p.21.