segunda-feira, 3 de dezembro de 2012


Ayamonte, Castro Marim e a Restauração da Independência

 


No dia 1 de Dezembro do presente ano de 2012 assinalam-se os 372 anos da Restauração da Independência portuguesa. A “conspiração de 1640” – como dizem os nossos vizinhos espanhóis - foi planeada por D. Antão de Almada, D. Miguel de Almeida, e João Pinto Ribeiro, entre outros fidalgos portugueses. No sábado de 1 de Dezembro de 1640 entraram no Palácio de Lisboa, mataram o secretário de Estado, Miguel de Vasconcelos, e aprisionaram Margarita de Sabóia, duquesa de Mântua, que governava Portugal em nome do seu primo, Felipe IV de Espanha. Aclamaram então o duque de Bragança como rei de Portugal, com o título de João IV, dando início à quarta dinastia, a dinastia de Bragança. Foram 28 anos de uma guerra pautada por inúmeras escaramuças, nas proximidades da fronteira, e cinco batalhas principais, todas elas ganhas pelos portugueses. Somente depois da batalha dos Montes Claros, em 17 de Junho de 1665, é que a paz foi estabelecida, através da assinatura do Tratado de Lisboa de 1668.

E Ayamonte? Qual o seu papel na Guerra da Restauração? Ora, antes de mais, devemos ter em consideração um facto deveras interessante. Gaspar Pérez de Guzmán y Gómez de Sandoval y Rojas, duque de Medina Sidónia, e cunhado do recém-aclamado rei de Portugal, encabeçou também uma rebelião pela independência da Andaluzia, auxiliado pelo seu primo Francisco Antonio de Guzmán y Zúñiga, o marquês de Ayamonte! Ao ser verificada a inactividade do duque na defensa da fronteira portuguesa, começou Madrid a suspeitar de uma conspiração andaluza que se veio a confirmar quando interceptada uma carta entre o duque de Medina Sidónia e o marquês de Ayamonte. Acresce ainda que os informadores que se encontravam em Portugal afirmavam a iminência de uma rebelião andaluza. Perante tal ameaça foram chamados os dois nobres à corte. Temendo o duque pela vida, chegou a um acordo com o valido, pedindo perdão ao rei e acusando de traição o seu primo. O marquês de Ayamonte acabou por ser decapitado no Alcázar de Segovia, em 1648. Terminavam assim os projectos de independência da Andaluzia e o relativo sossego na fronteira do Guadiana.

Perante a possibilidade de um ataque espanhol pelo Algarve, coube a Castro Marim, enquanto principal praça-forte da raia algarvia, a tarefa de defender a fronteira portuguesa. Tornava-se imperativa a construção de um sistema defensivo adaptado à realidade bélica do séc. XVII. Foi então concebido um sistema defensivo abaluartado, representativo da arquitectura militar moderna, e que resultou no Forte de São Sebastião, Revelim de Santo António e Bateria do Registo, logo em 1641, e na Cerca Seiscentista, em 1660. Além disso, houve a necessidade de reforçar a guarnição da praça com mais efectivos militares, pelo que o Governador do Algarve, Henrique Correia da Silva, acabou por enviar 2000 soldados para juntar aos 300 homens e 40 cavalos que a praça possuía em Dezembro de 1640. A verdade é que, ao contrário do que se passou no Alentejo e na Estremadura espanhola, onde se travaram a maioria das batalhas durante a Guerra da Restauração, os conflitos entre Castro Marim e Ayamonte resumiram-se a pequenas escaramuças marcadas por entradas clandestinas e roubos de gado.

No dia 1 de Dezembro do presente ano de 2012 assinalam-se os 372 anos da Restauração da Independência portuguesa. Mas, sejamos honestos… que independência? E de que valeu a Guerra da Restauração se os governantes portugueses insistem em vender o país aos interesses estrangeiros?
 
Jornal do Baixo Guadiana, Nº151, Dezembro de 2012, p.21.