sábado, 21 de julho de 2012

Da fundação de Vila Real de Santo António


   

A fundação de Vila Real de Santo António, a maior e mais significativa realização iluminista efectuada em Portugal, resultou da estratégica política, económica e territorial concebida pelo Marquês de Pombal, em finais de 1773, visando a afirmação do Estado Português face ao Estado Espanhol. Já em 1982 dizia o Prof. Doutor José Eduardo Horta Correia na Comunicação apresentada no 2º Simpósio de Urbanismo e História Urbana, em Madrid: “Vila real de Santo António, construída em 1774 num areal desértico perto da foz do Guadiana, constitui um exemplo muito interessante de urbanismo iluminista e o único caso de edificação de uma cidade «ex-voto» da época pombalina, depois da reconstrução de Lisboa de 1755”.
Com efeito, a edificação da cidade foi bastante rápida; em 17 de Março de 1774 foi lançada a primeira pedra e no dia 6 de Agosto do mesmo ano já estavam terminadas as Casas da Câmara e da Alfândega, e começava-se a construção da igreja. Os edifícios foram construídos da mesma forma que os da baixa de Lisboa, à base de peças pré-fabricadas que depois eram aplicadas no local, tornando a construção mais rápida e uniforme. A cidade desenvolvia-se numa malha urbana ortogonal perfeita, centrada na Praça Marquês de Pombal. Uma grande marginal percorria as várias centenas de metros que separavam o aglomerado urbano do rio Guadiana. A nova vila iluminista, voltada estrategicamente para Espanha, viria a ser inaugurada a 13 de Maio de 1776, assinalando o aniversário de Sebastião José de Carvalho e Melo e reforçando a barreira natural que marca a divisão política e administrativa de uma fronteira que remonta à segunda metade do século XIII, aquando da conquista do Reino do Algarve aos Mouros por D. Afonso III.
Deste modo, a nova vila régia desempenharia as funções do extinto aglomerado populacional de Santo António de Arenilha, povoação criada através de uma antiga Carta de Privilégio concedida por D. Manuel em 8 de Fevereiro de 1513 e despovoada nos inícios do séc. XVII em virtude das investidas da pirataria moura e da ameaça do avanço das águas do mar. Por outro lado, a fundação da nova vila régia impediria também o contrabando, a evasão fiscal, e a livre pesca castelhana praticada no mar de Monte Gordo, permitindo ao Estado português o aproveitamento das potencialidades internas da região e aumentando a produção nacional através do Plano de Restauração do Reino do Algarve.       

Jornal do Baixo Guadiana, Nª 132, Maio de 2011, p.25.

Sem comentários: