domingo, 12 de maio de 2013


Vila Real de Santo António e Santo António de Arenilha

– Duas fundações, uma estratégia


 

O presente mês de Maio de 2013 assinala os 237 anos da maior e mais significativa edificação iluminista efectuada em Portugal: a fundação de Vila Real de Santo António. Contudo, também este ano de 2013 assinala uma data da maior importância para a História local: os 500 anos da fundação de Santo António de Arenilha. Ora, se o nascimento de Vila Real resultou da estratégia política, económica e territorial concebida pelo Marquês de Pombal, em finais de 1773, visando a afirmação do Estado português face ao Estado espanhol, que dizer da fundação de Arenilha? Com efeito, a nova vila iluminista, inaugurada em 13 de Maio de 1776, pretendia reforçar a barreira natural que marca a divisão política e administrativa entre os dois reinos, para além de impedir o contrabando, a evasão fiscal e a livre pesca castelhana praticada no mar de Monte Gordo. Porém, não foram os mesmos motivos que levaram D. Manuel I a mandar construir “nossa Villa darenilla que hora mandamos fazer e edifycar”? Sim, se bem que a fundação de Arenilha também pretendesse alertar as povoações vizinhas das investidas da pirataria moura, bastante activa na centúria de quinhentos.

A verdade é que muito se tem enaltecido a acção reformista (e mesmo despótica) do Marquês de Pombal, seguramente devido ao património edificado pombalino, como à proximidade cronológica que nos aproxima do século XVIII. Todavia, este espírito reformista e pretensamente iluminado pelas luzes da razão, não foi exclusividade do ministro de D. José I. Já o reinado de D. Manuel I, “o Venturoso”, tinha sido pautado por um conjunto de acções que visavam fortalecer o reino política e administrativamente, nomeadamente, através de conjuntos de reformas presentes nos forais manuelinos. Prova disso, para os concelhos do baixo Guadiana, são a carta de foral de Castro Marim, de 1504, a carta de foral de Alcoutim, de 1520, ou mesmo a carta de privilégio de 8 de Fevereiro de 1513, onde o monarca manda proceder à construção da vila de Arenilha. Efectivamente, a estratégia de D. Manuel I para a foz do Guadiana acabou por antecipar-se ao Marquês de Pombal em mais de dois séculos e meio, contudo, o avanço das águas do mar e a sistemática acção da pirataria berberesca acabaram por despovoar a “vileta” no decurso do século XVII. Ora, não fosse o tratado de paz assinado entre Portugal e Marrocos, em 1774, e bem que Vila real de Santo António poderia ter tido semelhante destino… Recordamos que D. José I faleceu em 1777, no ano seguinte à fundação da vila régia, pelo que o Marquês de Pombal e os seus ambiciosos projectos rapidamente foram votados ao abandono. Para a História ficam duas fundações, cada uma no seu respectivo século, mas unidas por uma estratégia tão comum quão intemporal.

 

Jornal do Baixo Guadiana, Nº155, Maio de 2013, p.21.

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